Ia postar uma crônica antiga aqui, mas também queria falar sobre o homem opaco. Acabei escolhendo ele xDD
Ele caminhava pesado sobre a calçada, como se os ombros lhe encurvasse para o chão. Não levantava a cabeça, não olhava pra frente. Mirava um ponto qualquer da calçada e ia seguindo sua linha. Não ousava, nunca, nem ao caminhar, não saía da linha imaginária que ele tinha traçado. Eu o segui, pela outra calçada, queria saber onde ia aquele homem murcho. Era assim que o via, como uma flor que murchou com o tempo. Garanto a você que ele até possuia esse aspecto meio marrom acinzentado que as flores possuem quando estão murchas. Ele era opaco. Cruzou a avenida e pela primeira vez em 30 minutos de caminhada eu pude ver seu rosto: era algo inexpressivo, simples como um pedaço de madeira que você chuta na rua. Mas seus olhos... seus olhos mostravam algo que eu nunca antes tinha sentido. Era tristeza, amargura, humildade, não sei definir... era como se ele fosse inferior, porque era exatamente assim que ele se sentia, e não queria ser diferente. Como se tivesse se acostumado a ser menos que os outros. Ele era contido. Quando viu que eu o olhava, vacilou o olhar, deixou ele cair, e eu, deixei morrer o sorriso que nascia nos meus lábios. Percebi que ele ficou confuso depois disso. Eu acabara de atormentar o seu mundinho, tão limitado e previsível. Atravessou a avenida e rumou para a catraia, eu o segui, fielmente, em silêncio. Na embarcação ele não falou com ninguém, apenas ficou olhando pro mar podre e com cheiro de soja por onde nossa catraia passava. Nem as baratinhas da parede lhe tiravam a determinação de ser invisível. Estávamos parados há 10 minutos, navios em manobra stressam qualquer ser humano comum. É chato ficar parado no meio do mar, esperando um monstro de milhões de quilos se mover muito lentamente. Eu estava na catraia. Eu e o homem. E ele era nulo. Fiquei a olha-lo, imaginando o que havia debaixo de sua pele fraca, que sentimentos escondia Percebi um leve estremecer de seu lábio inferior. Vi uma agitação que se formava e vi ainda os muitos anos de opacidade se juntando e explodindo. Ele se levantou e pulou de cabeça no mar, diante do navio em manobra. Tentamos gritar pra ele, mas já era tarde demais, ele foi preciso no salto. E o que vimos depois disso foram os vários pedaços do homem desbotado colorir o mar.
" Hmm, ela se jogou da janela do 5º andar, nada é fácil de entender..."
Ele caminhava pesado sobre a calçada, como se os ombros lhe encurvasse para o chão. Não levantava a cabeça, não olhava pra frente. Mirava um ponto qualquer da calçada e ia seguindo sua linha. Não ousava, nunca, nem ao caminhar, não saía da linha imaginária que ele tinha traçado. Eu o segui, pela outra calçada, queria saber onde ia aquele homem murcho. Era assim que o via, como uma flor que murchou com o tempo. Garanto a você que ele até possuia esse aspecto meio marrom acinzentado que as flores possuem quando estão murchas. Ele era opaco. Cruzou a avenida e pela primeira vez em 30 minutos de caminhada eu pude ver seu rosto: era algo inexpressivo, simples como um pedaço de madeira que você chuta na rua. Mas seus olhos... seus olhos mostravam algo que eu nunca antes tinha sentido. Era tristeza, amargura, humildade, não sei definir... era como se ele fosse inferior, porque era exatamente assim que ele se sentia, e não queria ser diferente. Como se tivesse se acostumado a ser menos que os outros. Ele era contido. Quando viu que eu o olhava, vacilou o olhar, deixou ele cair, e eu, deixei morrer o sorriso que nascia nos meus lábios. Percebi que ele ficou confuso depois disso. Eu acabara de atormentar o seu mundinho, tão limitado e previsível. Atravessou a avenida e rumou para a catraia, eu o segui, fielmente, em silêncio. Na embarcação ele não falou com ninguém, apenas ficou olhando pro mar podre e com cheiro de soja por onde nossa catraia passava. Nem as baratinhas da parede lhe tiravam a determinação de ser invisível. Estávamos parados há 10 minutos, navios em manobra stressam qualquer ser humano comum. É chato ficar parado no meio do mar, esperando um monstro de milhões de quilos se mover muito lentamente. Eu estava na catraia. Eu e o homem. E ele era nulo. Fiquei a olha-lo, imaginando o que havia debaixo de sua pele fraca, que sentimentos escondia Percebi um leve estremecer de seu lábio inferior. Vi uma agitação que se formava e vi ainda os muitos anos de opacidade se juntando e explodindo. Ele se levantou e pulou de cabeça no mar, diante do navio em manobra. Tentamos gritar pra ele, mas já era tarde demais, ele foi preciso no salto. E o que vimos depois disso foram os vários pedaços do homem desbotado colorir o mar.
" Hmm, ela se jogou da janela do 5º andar, nada é fácil de entender..."