quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

(im)pulsões

Poesia concreta sobre a dureza da vida.

 





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"And I find it kind of funny, I find it kind of sad. The dreams in wich I'm dying are the best I ever had. (...) No tomorrow, no tomorrow"

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Desarmonia

Eu escrevi esse conto, mais ou menos, em abril de 2019, e pensei em publicá-lo em livro. À época, me pareceu que traria mais ônus do que bônus, então, deixei estar. Agora chegou a hora de deixá-lo livre.

Desarmonia

- "Credo, que música chata! Vou trocar para alguma do Queen."

Foi assim que saímos das músicas da moda, que estavam tocando há horas, por algo que gostávamos mais. No exato momento em que ele disse essa frase, eu demorei mais o olhar nele. Na curva suave do pescoço, nas linhas do bíceps, no cacheado fofo da barba... eu nunca o tinha visto como homem, mas naquele momento, ele se tornou O CARA. Talvez fosse o sono falando mais alto, ou o calor insuportável me fazendo alucinar, mas tive a certeza de que a partir daquele momento as coisas iriam mudar para nós. Para mim, pelo menos. Engraçado como o coração nos prega peças, e faz de um retumbante “nada” um absoluto e profundo “tudo”. Enquanto eu o olhava, de longe, mexer no notebook, concentrado, "Somebody to love" me encheu os ouvidos, e suspirei, tonta. Eu tinha achado aquele que seria o motivo dos meus mais doces pensamentos. Pelo menos era o que eu achava.

Ele voltou e eu sorria, feito boba, como se tivesse fumado um baseado dos bons. Tudo nele resplandecia, luzia com os raios dourados do fim de tarde. Como se o sol, para seu próprio deleite, resolvesse banhar aquele corpo com sua mais pura luz. Eu queria tocá-lo, abraça-lo, fazê-lo meu. A partir daquele dia eu pensava nele dia e noite.Tentei

 me aproximar, me fazer notar. Enviava e postava as músicas de bandas que gostávamos para que ele visse. Aconcheguei seus medos em meu colo e o ninava por longas e insônes madrugadas enquanto conversávamos via internet, tão distantes e tão próximos. Eu o peguei pela mão e o guiei pelos caminhos que queria percorrer, sem perceber que este caminho era única e exclusivamente meu.

Em uma tarde de sábado, enquanto saudávamos à rainha em um café e nos divertíamos, percebi o quanto o queria para mim, para sempre... engraçado o que os contos de fadas fazem com a gente, nos levando a crer que o “para sempre” existe. Lembro que os versos “crazy little thing called love” tocavam no bar quando eu declarei meus sentimentos. Era tudo lindo, mágico, envolto por uma atmosfera de música e amor. Ledo engano... ele se levantou e saiu andando, sem rumo, para longe de mim. Cortou qualquer tipo de contato.Fiquei

 sem entender o que transformou a nossa doce melodia em desarmonia. Nunca mais o vi, nunca mais o toquei, nunca mais meu coração teve paz. Tudo o que ficou foi uma doce lembrança de quando nossas conversas fluíam para todos os enredos e tramas, e de como nossos sonhos e desejos convergiam, feito curvas de um rio que confluíam rumo ao mar. Tudo o que me restou foi um eterno gosto amargo de derrota, como o que um café ruim, mal feito, deixa na boca.

Penso sempre nele, e em como eu achei e quis que tudo fosse diferente, e sempre que sua imagem me vem à mente, eu escuto, ao longo, um sussurro, tão baixo que mal se faz notar, dizendo You don't know what you mean to me...




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Love of my life, you've hurt me
You've broken my heart and now you leave me


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Ponto de Interrogação

Gosto do teu abraço
Do aconchego dos teus braços ao meu redor
De sentir teu coração bater junto ao meu
Do calor da tua pele contra a minha.

Gosto que teus braços parecem asas
Fechando-se em casulos ao meu redor
Fosse eu larva machucada
Precisando virar borboleta

Gosto do enlace de corpo todo
Onde teu corpo cresce e se projeta
Para me alcançar por inteira.
Num abraço cheio, completo.

E quem vê, de longe, consegue perceber
A interrogação em que nos moldamos
Despertando dúvidas e sentimentos
Onde antes só haviam exclamações

e reticências...




"I work hard everyday of my life. I work till I ache my bones. At the end of the day, I take home my hard earned pay all on my own. I get down on my knees and I start to pray. Till the tears run down from my eyes. Lord somebody... Can anybody find me somebody to love?"

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Quando a revolução chegar

Quando a revolução chegar
Ela não trará flores
Nem sorrisos
Virá com os olhos embotados
De lágrimas e injustiças
E requisitará a tua mão

Quando a revolução chegar
Não trará belezas
Nem alegrias
Chegará calejada e áspera
Da labuta diária
E quererá a tua força

Quando a revolução chegar
Não virá em cavalo branco
Nem de carro
Mas nos pés oprimidos e teimosos
Despidos de tudo
E buscará o teu vigor

Quando a revolução chegar
Não virá de fácil acesso
Nem bom grado
Mas da força da massa uníssona
Do povo unido
E precisará da tua voz

Quando a revolução chegar, amor
Antes da sonhada liberdade
Haverá luta
Antes da nossa glória,
O luto
Que, para nós, será verbo.



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"Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer."

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Multifaces

Porque somos muitos, e muitas vezes todos explodem ao mesmo tempo.
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Multifaces 

Venho com o rosto já batido
Braços cansados
Coração em pedaços
Pés rachados
Mãos inertes
Boca calada.

Chego com a alma encharcada
O corpo abatido
O passo pesado
A língua colada
Os olhos cerrados
O orgulho ferido.

Tenho múltiplas faces
E todas elas
Já estão marcadas.



"Pai, afasta de mim esse cálice. De vinho tinto de sangue. Como é difícil acordar calado se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado. Esse silêncio todo me atordoa. Atordoado eu permaneço atento na arquibancada pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa. Pai, afasta de mim esse cálice!"